O novo diretor executivo do COI: “Os desafios globais do petróleo”

Clima, sistemas, preços, consumo: uma entrevista abrangente
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Com o início de 2024, os espanhóis Jaime Lillo (Foto Nela), agrônomo com vasta experiência no setor do azeite, tornou-se diretor executivo da Conselho Oleícola Internacional (COI) - a organização intergovernamental internacional dedicada ao azeite e às azeitonas de mesa – em substituição do tunisino Abdellatif Ghedira. Eis alguns excertos da entrevista concedida ao jornal espanhol Oleum Xauen.

Com quais objetivos você aborda o cargo de diretor executivo do COI?
“Por um lado, continuar a promover a produção, a qualidade e o consumo de azeite e azeitonas de mesa. Para atingir este objetivo é necessário continuar a harmonização das normas internacionais, promover boas práticas de produção e inovação, nomeadamente nos aspetos de sustentabilidade e economia circular, premiar a qualidade e responder ao desafio das alterações climáticas. Por outro lado, aproximar o COI de grandes países consumidores e produtores não tradicionais, como Estados Unidos, Brasil, Japão e China, entre outros. Gostaria também que o setor sentisse o COI mais próximo.”

Como avalia a situação do setor do azeite e do azeite?
“É uma indústria impressionante. Não creio que exista outro sector agrícola com uma evolução tão extraordinária como o do sector do azeite e do azeite nos últimos anos. Há uma verdadeira revolução no cultivo da oliveira. O aumento da qualidade dos azeites, especialmente dos azeites virgens extra, era impensável há 20 anos. Marketing, especialmente em mercados de exportação. Vejo um setor em crescimento, num intenso processo de modernização, inovação e internacionalização”.

Que futuro você vê para o setor oleícola?
“Estou optimista, cada vez mais consumidores descobrem o azeite e apreciam a sua qualidade, não só em Espanha, mas no mundo. Há cada vez mais pessoas que querem aproveitar a vida de forma saudável e sustentável.”

Quais são os principais desafios?
“O principal desafio são as alterações climáticas. Tanto no domínio da adaptação das culturas, onde já estamos a observar as consequências. Duas curtas campanhas consecutivas não são lembradas. Devemos trabalhar a todos os níveis, desde o estudo das variedades genéticas com maior capacidade de adaptação às altas temperaturas e à escassez de água, bem como no desenvolvimento de uma política hidráulica e de irrigação sustentável, bem como nas práticas de cultivo e gestão do cobertura vegetal. Mas também no domínio da mitigação, onde o olival contribui ao sequestrar Co2 da atmosfera. Muitos não sabem que por trás dos azeites, ou das azeitonas, existem mais de 11 milhões de hectares de olivais que funcionam como uma autêntica floresta mediterrânica domesticada.
O outro grande desafio é a criação de valor. Na minha opinião, os azeites, e especialmente os azeites virgens extra, deveriam aspirar a ter um valor adequado e mais estável. É um produto extraordinário que não deveria funcionar como commodity, especialmente nos mercados internacionais.”

Qual a sua opinião sobre os preços do azeite em máximos históricos e a sua volatilidade?
“A volatilidade dos preços não é desejável, devemos procurar alguma estabilidade. Os máximos históricos me parecem muito interessantes, há mercados que têm mantido o ritmo de consumo a esses preços. Mesmo os preços baixos que vimos há pouco tempo não eram normais.”

E a queda do consumo nesta campanha?
“A queda no consumo não foi a mesma nos diferentes países e categorias. Estou convencido de que assim que houver mais petróleo retomaremos o caminho do crescimento do consumo e da comercialização em termos globais”.

Como potenciar a promoção do azeite, a conquista de novos consumidores e de novos mercados?
“É a chave de tudo. Há anos que observamos uma mudança no consumo para países não tradicionais, longe da bacia do Mediterrâneo. O crescimento do consumo está nos Estados Unidos, Brasil, Canadá, Japão, Austrália e China, que começa a despertar interesse e muitos mais estão chegando. A promoção é a força motriz. Como disse antes, há cada vez mais pessoas que querem viver melhor, com uma alimentação mais saudável, atentas à sustentabilidade e às alterações climáticas, sem abdicar do prazer da comida. Temos o vento a nosso favor."

A emergência climática é o principal risco para o olival?
"Eu penso que sim. Mas mais do que se preocupar, é cuidar disso. A oliveira é uma das plantas mais resistentes, temos de perceber isso, investigar a oliveira e a sua interação com as alterações climáticas. Propus aos membros que nos próximos anos houvesse uma linha de trabalho sobre a emergência climática. Já estamos trabalhando. Estou confiante de que encontraremos soluções, mas o risco é real."

Esta cultura pode ser rentável e sustentável ao mesmo tempo?
“Está se tornando cada vez mais uma necessidade. Do meu ponto de vista, o olival encontra-se numa situação privilegiada no que diz respeito à sustentabilidade, à biodiversidade ou às alterações climáticas. Se compararmos com outros óleos ou gorduras, há muito para contar e realçar. É algo que também propus aos membros do COI para trabalharem nos próximos anos. Tal como o azeite foi identificado com a saúde, devemos identificá-lo com a sustentabilidade.”

Que futuro espera o olival tradicional em comparação com outros tipos de sistemas?
“É difícil generalizar. A dimensão da exploração, o declive, a disponibilidade de água são muitos factores, mas as tendências são de diferenciação ou de reconversão. Em todo o caso, também há vida para o olival tradicional.”

Você acha que é necessário intensificar o trabalho de controle e fiscalização para evitar fraudes?
“Acho muito interessantes as iniciativas de autocontrole dentro de um setor que está principalmente interessado em proteger a imagem do produto. Há um interesse crescente nos grandes países consumidores em melhorar o controlo e a luta contra a fraude. Nos mercados onde não existem controlos, o risco de fraude é obviamente maior. A UE está na vanguarda em termos de controlo e inspeção de azeites. Na minha opinião, o ruído causado pela suspeita de fraude é “o calcanhar de Aquiles”. Não devemos esquecer que este é um produto mais caro do que outros óleos e que a confiança do consumidor é essencial e frágil. Infelizmente, a fraude suscita muito interesse por parte dos meios de comunicação social, na minha opinião é exagerada, criando uma sombra de dúvida por vezes desproporcional, razão pela qual precisamos de ser muito exigentes no respeito das regras. Vimos como em alguns mercados o consumo desacelerou durante anos devido à desconfiança em relação aos óleos importados”.

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Tags: COI, em evidência, Lillo

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